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Por: Issiaka N’Guessan Este artigo foi produzido com o apoio da Iniciativa das Agências de Financiamento da Ciência (SFAI). [As plantas medicinais são susceptíveis de desempenhar um papel importante no…

Por: Issiaka N’Guessan

Este artigo foi produzido com o apoio da Iniciativa das Agências de Financiamento da Ciência (SFAI).

[As plantas medicinais são susceptíveis de desempenhar um papel importante no tratamento da leishmaniose. São estas as conclusões de um estudo realizado por investigadores da Costa do Marfim.

Intitulado “Avaliação in vitro da atividade anti-leishmania de um certo número de plantas medicinais da Costa do Marfim”, o objetivo do estudo era “procurar na flora da Costa do Marfim plantas medicinais capazes de matar o parasita da leishmaniose em cultura in vitro”, explica Roland Gueyraud Kipré, investigador principal do laboratório de biologia e saúde da Universidade Félix Houphouët-Boigny, em Abidjan, e coordenador do grupo de investigadores.

De uma vintena de plantas medicinais estudadas, os investigadores conseguiram identificar três plantas cujos princípios activos “mostraram uma atividade promissora contra a leishmania major, responsável pela leishmaniose cutânea, e contra a leishmania donovani, responsável pela leishmaniose visceral”, afirma o investigador, que é também especialista em farmacologia das substâncias naturais.

De acordo com o investigador, a leishmaniose é considerada uma doença órfã. Por isso, poucasempresas farmacêuticas levam em consideração a busca de novas moléculas, devido à baixa incidência da doença nos países do Norte. O estudo, salienta, foi realizado para colmatar esta lacuna.

Este estudo pode também fornecer “validação científica do conhecimento empírico dos praticantes tradicionais da Costa do Marfim, integrando assim o conhecimento tradicional na ciência moderna. Em termos médicos, as opções terapêuticas são limitadas e muitas vezes dispendiosas. As plantas medicinais podem oferecer alternativas mais acessíveis e potencialmente menos dispendiosas”, afirma Roland Kipré.

Além disso, “os medicamentos actuais para a leishmaniose podem ter efeitos secundários significativos. Os tratamentos à base de plantas podem oferecer opções com menos efeitos secundários. Os compostos activos identificados podem ser desenvolvidos em medicamentos após ensaios clínicos, contribuindo para a luta contra este parasita”, acrescenta o investigador.

Alternativa

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a leishmaniose é causada por um protozoário parasita do género Leishmania, transmitido pela picada de fêmeas de mosquito da areia infectadas.

Existem três formas principais de leishmaniose: visceral (a mais grave, pois é quase sempre fatal), cutânea (a mais comum, causando geralmente úlceras na pele) e mucocutânea (que afecta a boca, o nariz e a garganta). Estima-se que ocorram entre 700.000 e um milhão de novos casos todos os anos.

A OMS salienta que dispõe de poucas informações epidemiológicas para a África Ocidental. No entanto, Paul Aboa Koffi, coordenador do Programa Nacional de Controlo da Úlcera de Buruli, afirma que os trabalhos realizados por um grupo de investigadores da Universidade de Bouaké mostram que a leishmaniose é endémica na Costa do Marfim.

Para o coordenador, o tratamento desta doença com plantas medicinais pode, portanto, ser uma alternativa ao tratamento oferecido pela medicina moderna.

“Na Costa do Marfim, existe um programa de promoção da medicina tradicional… É óbvio que se trata de uma alternativa. Não podemos confiar apenas na medicina moderna para resolver todos os nossos problemas. Estamos conscientes de que este é um aspeto que devemos ter em conta”, afirma.

Norbert N’goran Djè, coordenador do Programa Nacional de Luta contra as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), fez eco desta opinião, sublinhando que há esperança no tratamento de certas doenças tropicais negligenciadas com recurso a plantas medicinais.

“Até agora, os medicamentos utilizados vinham da farmácia. Agora que as plantas medicinais estão a ser desenvolvidas, é disso que estamos à espera. E há uma esperança real […] Foi estabelecida uma colaboração para que possamos utilizar estas plantas medicinais, e esperamos de braços abertos estas descobertas e a utilização destas plantas contra as DTN”, garante.

Abel Adjet, sociólogo da saúde, considera que o trabalho coordenado por Roland Gueyraud Kipré é “digno de louvor e pode contribuir para o tratamento da leishmaniose”. No entanto, o sociólogo insiste que a investigação sobre os tratamentos à base de plantas medicinais deve ser objeto de um rigor científico.

“O trabalho empírico dos naturopatas precisa de ser submetido a um crivo científico para que os resultados desse trabalho possam corresponder a normas. Sabemos que a medicina, mesmo a chamada medicina moderna, é toda ela codificada, obedece a determinadas normas. Portanto, os produtos derivados da medicina tradicional através dos naturopatas merecem ser submetidos ao crivo científico, mas em colaboração com os naturoterapeutas que são os detentores desse saber”, defende.

Ensaios clínicos

O estudo realizado por Roland Kipré e a sua equipa foi financiado pelo Fundo para a Ciência, a Tecnologia e aInovação (FONSTI), no âmbito da Iniciativa das Agências de Subvenção à Investigação Científica (SRGI). O especialista em farmacologia das substâncias naturais afirma que este apoio financeiro mostra que as suas “linhas de investigação são de interesse para o governo”.

O investigador acrescenta que o financiamento da investigação científica num país em desenvolvimento como a Costa do Marfim é crucial para promover o progresso tecnológico, económico e social.

“O governo deveria fazer da investigação científica uma prioridade nacional, atribuindo uma parte substancial do seu orçamento à investigação e ao desenvolvimento…”, defende.

Segundo Roland Kipré, a próxima etapa do trabalho é a formulação galénica de fito-medicamentos para o tratamento da leishmaniose. “Isso significa que vamos passar para os ensaios clínicos”, diz. Para tal, tenciona submeter o projeto ao concurso de projectos FONSTI 2024.

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