Dados de alta qualidade são vitais para a construção de fortes ecossistemas nacionais de investigação e inovação em África. Este documento de orientação, produzido pela AUDA-NEPAD e apoiado pela Science…
Dados de alta qualidade são vitais para a construção de fortes ecossistemas nacionais de investigação e inovação em África. Este documento de orientação, produzido pela AUDA-NEPAD e apoiado pela Science Granting Councils Initiative (SGCI), explora a forma como a Etiópia utiliza dados de nível micro para compreender e melhorar o seu ecossistema de investigação e inovação. O estudo mostra que dados pormenorizados, especialmente das unidades mais pequenas, como investigadores individuais ou empresas, podem dar uma visão profunda do funcionamento efetivo dos sistemas de ciência, tecnologia e inovação (CTI) de um país.
Porquê concentrar-se nos microdados?
Os microdados referem-se a informações pormenorizadas sobre indivíduos, instituições ou actividades específicas. Ao contrário das estatísticas nacionais mais amplas, os microdados ajudam a responder a perguntas específicas como: Quem está a realizar investigação? De onde vem o financiamento? A que tipos de investigação está a ser dada prioridade?
No caso da Etiópia, o Instituto de Inovação Tecnológica forneceu esses dados, permitindo uma análise profunda do desempenho e dos desafios do sistema de CTI do país. Esta abordagem fornece lições valiosas para os Conselhos de Concessão de Ciência (SGC) em toda a África.
O papel dos CAG na inovação baseada em dados
Os CGS são organismos governamentais que gerem o financiamento e a política de investigação científica. O documento sublinha que estes conselhos devem reforçar a sua capacidade de recolha e análise de dados. Ao fazê-lo, podem decidir melhor onde investir, quais os sectores a que devem dar prioridade e como medir os resultados. A utilização de dados a nível micro e macro permite aos CGS acompanhar os progressos, afetar recursos e garantir que a investigação se alinha com os objectivos de desenvolvimento nacional.
O ecossistema de investigação e inovação da Etiópia num ápice
O sistema de CTI da Etiópia inclui universidades, centros de investigação, centros de inovação e ministérios governamentais. O Ministério da Inovação e Tecnologia fornece a direção política, enquanto a liderança do Gabinete do Primeiro-Ministro assegura o alinhamento com as prioridades nacionais. No entanto, a eficácia do sistema depende em grande medida de decisões bem informadas, o que sublinha a necessidade de práticas sólidas de recolha e análise de dados.
Principais conclusões do inquérito de 2014 sobre I&D na Etiópia
O documento destaca as despesas e o desempenho da investigação na Etiópia, utilizando dados de um inquérito de 2014. Nessa altura:
- As despesas brutas em I&D foram de 780 milhões de dólares, ou seja, 0,62% do PIB, um pouco abaixo do objetivo da União Africana de 1%.
- O governo foi o principal financiador, contribuindo com 97% do total. O sector empresarial contribuiu apenas com 1%.
- A maior parte das despesas (50%) destinou-se ao desenvolvimento experimental, o que sugere uma concentração na aplicação da investigação a soluções do mundo real.
- O sector do ensino superior foi o que realizou mais I&D, especialmente em investigação aplicada e experimental.
Quem são os trabalhadores de I&D da Etiópia?
Em 2014, a Etiópia empregava mais de 18.000 pessoas em I&D. Quase metade eram investigadores e os restantes trabalhavam como técnicos ou pessoal de apoio. Cerca de metade eram investigadores e os restantes trabalhavam como técnicos ou pessoal de apoio. O governo era o maior empregador, seguido pelas universidades. O desequilíbrio entre os géneros era uma preocupação: os homens ocupavam maioritariamente cargos de investigação.
A investigação centrou-se principalmente na agricultura, na saúde e nas ciências sociais. Estes sectores são cruciais para o desenvolvimento da Etiópia, mas a fraca representação das mulheres realça a necessidade de políticas mais inclusivas.
Até que ponto as empresas etíopes são inovadoras?
O estudo analisou empresas dos sectores mineiro, industrial, da construção e dos serviços para avaliar a inovação. De 2012 a 2014:
- 59,4% das empresas foram consideradas inovadoras, com as empresas de maior dimensão a liderar.
- O sector da indústria transformadora registou a taxa de inovação mais elevada (68%), enquanto a construção ficou para trás.
- É interessante notar que 91% das empresas inovadoras não realizaram I&D formal, confiando antes no conhecimento interno ou nos fornecedores para obter novas ideias.
As universidades e as instituições públicas de investigação tiveram uma influência mínima na inovação a nível das empresas. Apenas 1,8% das empresas consideraram as universidades fontes essenciais de informação sobre inovação. Esta fraca ligação universidade-indústria constitui uma lacuna crítica.
Barreiras à inovação
Vários factores impediram a inovação na Etiópia. Os obstáculos mais significativos incluem:
- Falta de financiamento interno, especialmente para as pequenas e médias empresas.
- Dificuldade de acesso ao financiamento externo.
- Falta de pessoal qualificado.
- Domínio do mercado pelas grandes empresas.
- Procura incerta de novos produtos.
Estes desafios exigem políticas específicas que apoiem as pequenas empresas, melhorem o acesso ao financiamento e incentivem uma colaboração mais forte entre a indústria e as instituições de investigação.
Recomendações políticas
Para reforçar o ecossistema de investigação e inovação da Etiópia – e ajudar outros países africanos a seguir o exemplo – o documento recomenda
- Desenvolver programas nacionais de formação sobre gestão de dados de I&D, especialmente para funcionários públicos.
- Melhorar os instrumentos de recolha de dados para garantir inquéritos contínuos e de alta qualidade sobre as actividades de investigação e inovação.
- Criar comunidades de prática para partilhar lições e boas práticas entre países.
Em resumo
Este estudo de caso torna claro: bons dados conduzem a boas decisões. Ao investir em sistemas de microdados e ao melhorar a sua capacidade de analisar e aplicar esses dados, os SGC em África podem construir sistemas de investigação mais fortes, alinhar melhor a investigação com os objectivos nacionais e, em última análise, impulsionar o crescimento económico. A experiência da Etiópia oferece lições valiosas sobre o poder e os desafios da utilização de microdados para moldar a política de ciência e inovação.
Pesquisa e Recursos
Temas
O SGCI visa reforçar as capacidades destes SGC para apoiar a investigação e políticas baseadas em evidências que contribuirão para o desenvolvimento económico e social.

Utilização de dados concretos na elaboração de políticas
